quarta-feira, 15 de agosto de 2012

INTRODUÇÃO: “MANUAL DO UTILIZADOR” DA CARTA DE IDENTIDADE DA ORDEM

A Carta de Identidade da Ordem é um documento de importância fundamental para toda a Família de S. João de Deus, pois nela se definem as características mais importantes da nossa identidade: as nossas raízes e origens, a Hospitalidade que define o nosso carisma e a nossa missão, a nossa cultura e a nossa herança cultural, os nossos princípios éticos e a nossa filosofia, bem como os princípios e os valores em que assentam a assistência, a gestão, a administração e a investigação.
Desde a sua publicação, a Carta de Identidade foi um marco de referência dentro e fora da Ordem: abrange uma quantidade de temas e uma vasta gama de questões relevantes para a nossa missão e o nosso apostolado, oferece ideias e sugestões importantes para o desenvolvimento e promoção de laços de união no âmbito da Família de S. João de Deus, descreve e define os aspetos fundamentais daquilo a que chamamos “gestão carismática”. Por isso, tornou-se também um subsídio fundamental para a formação de Irmãos e Colaboradores.
Trata-se de um documento vivo e dinâmico que começa por indicar o que nos identifica em todos os tempos. Por conseguinte, deve ser revisto e atualizado de modo a oferecer sempre temáticas e reflexões atualizadas sobre a nossa instituição, preservando ao mesmo tempo os fundamentos sobre os quais ela se apoia.
Obviamente, para se poder compreender plenamente um documento desta natureza é fundamental possuir conhecimentos basilares sobre a Ordem e estar familiarizados com a sua linguagem. Foi por isso que considerámos necessário redigir este esboço de “Manual do Utente”, com a principal finalidade de ajudar todos os membros da Família de S. João de Deus a familiarizarem-se com a linguagem, a cultura, os fundamentos éticos e a filosofia da nossa Instituição como uma etapa preliminar, ou introdução, para um estudo mais completo da Carta de Identidade.
Este “Manual” não é uma síntese da Carta, mas um novo documento, mais breve, escrito numa linguagem mais acessível e com uma abordagem que obedece a critérios formativos, evidenciando os temas fundamentais tratados no documento. Esta nova publicação destina-se a todos os Colaboradores da Ordem, especialmente àqueles que não conhecem bem a Carta de Identidade, ou aos novos membros dos nossos Centros e Serviços, bem como a quantos transcorrem algum tempo connosco – pertencendo a outras instituições ou para adquirirem experiência prática connosco, como estagiários – e, em geral, a todos aqueles que desejam conhecer-nos. Este é um outro documento que apresentamos às Províncias, aos Centros e Serviços da Ordem para promover um conhecimento mais vasto e mais profundo dos nossos ideais e posições, para encorajar e promover a formação de toda a Família de S. João de Deus. Trata-se de um documento a ser amplamente difundido, tendo por detrás pessoas capazes de responder às perguntas que ele possa suscitar.
Gostaria de agradecer à Comissão que elaborou o documento, coordenada pelo Ir. Gian Carlo Lapic, por todo o seu trabalho. Não há dúvida que ele será de grande ajuda para toda a Família de S. João de Deus, levando mais pessoas a familiarizar-se com a nossa Carta de Identidade e a tornar a nossa Ordem mais e melhor conhecida e amada.
Ir. Donatus Forkan
Superior Geral

1. ORDEM

1.1.   Figura de S. João de Deus

 

1.1.1      Nota biográfica

João de Deus nasce em Montemor-o-Novo (Portugal), em 1495. Tendo ido para a Espanha, ainda criança, vive uma série de aventuras, desde a perigosa carreira militar até à venda de livros. Em 1539 é internado no Hospital Real de Granada, por alegadas perturbações mentais ligadas a manifestações “excessivas”, relacionadas com a sua conversão, ocorrida ao escutar um sermão de S. João de Ávila. Neste lugar, João conhece a realidade dramática dos doentes, abandonados a si mesmos e marginalizados, e decide assim consagrar a sua vida ao serviço dos doentes.[1] No mesmo ano, funda o seu primeiro hospital na cidade de Granada, onde veio a falecer, a 8 de março de 1550.
Em 1630, o Papa Urbano VIII declara-o Beato e, em 1690, é canonizado pelo Papa Alexandre VIII. Em 1886, Leão XIII proclama-o celeste padroeiro dos hospitais e dos doentes. Em 1930, Pio XI proclama-o celeste protetor dos Enfermeiros e das suas associações e, finalmente, em 1940, Pio XII proclama-o padroeiro de Granada.[2]

1.1.2.     Perfil carismático[3]

João de Deus identificou-se profundamente com Jesus de Nazaré nas suas atitudes e gestos de misericórdia e solidariedade para com os pobres e os doentes: libertou-se progressivamente de todo o tipo de egoísmo e da tentação de viver um cristianismo confortável, fez uma leitura da situação dos pobres e dos doentes de Granada, em chave de fé e misericórdia e, animado pela experiência de Deus, Pai misericordioso, imitou Jesus Cristo na dedicação radical ao serviço dos necessitados da sua época para lhes manifestar o amor de Deus, tornando-os participantes da sua mesma experiência e anunciando-lhes a salvação.[4]
João de Deus foi um homem carismático e o seu modo de agir atraiu a atenção de quantos o conheceram. A sua influência difundiu-se a partir de Granada até às aldeias e cidades da Andaluzia e Castela. Este carisma ia para além da sua pessoa: não se tratava só de atitudes e gestos humanos que, expressando-se em amor para com os doentes e os pobres, despertavam admiração e impeliam a colaborar com a sua obra, mas era a manifestação de uma força que provinha da confiança depositada em Deus. O carisma da hospitalidade, com o qual João de Deus foi enriquecido pelo Espírito Santo, encarnou-se nele como germe que continua a viver nos homens e mulheres que, através da história prolongam a presença misericordiosa de Jesus de Nazaré, servindo aqueles que sofrem, segundo o seu estilo.[5]
A sua obra esteve sempre aberta, não só aos doentes e aos pobres, mas também a todas as pessoas que desejavam colaborar com ele. Começou com as esmolas dos habitantes de Granada. Sentiu-se apoiado pelo trabalho que os mesmos pobres faziam em casa e, com eles, os peregrinos e as prostitutas, às quais pediu ajuda. Estava ladeado por enfermeiros que trabalhavam no hospital enquanto ele andava fora, a pedir esmolas. Teve em Angulo um amigo de confiança que o acompanhava sempre, especialmente durante as suas saídas. Os benfeitores, com as suas ajudas, eram sempre os protagonistas da vida no hospital. Este conjunto de pessoas era a expressão dos seus princípios e da vontade de realizar uma obra com a participação de todos, dando valor a cada um com grande espírito de abertura e universalidade. A sua obra foi, portanto, desde os primeiros momentos, realizada graças à colaboração das pessoas de diferentes condições sociais, crentes ou não crentes. Só lhes era pedido que se identificassem com o seu espírito humanitário em relação às pessoas às quais ele desejava testemunhar a força da caridade.
Esta modalidade de participação contínua ainda hoje. Os níveis desta cooperação são diversos: assim, há pessoas que se sentem particularmente ligadas à Ordem através da sua espiritualidade, e há as que, por outro lado, vivem a sua participação mediante o desempenho da mesma missão.[6]


[1]           Cf. Castro, Francisco de, História da vida e obras de S. João de Deus, tradução e notas de Fr. João Gameiro, O.H., Co-edição de Editorial Franciscana (Braga) e Hospital Infantil de S. João de Deus (Montemor-o-Novo), Braga 1982.
[2]           Cfr. G. Russotto, San Giovanni di Dio e il suo Ordine Ospedaliero, Vol. I-II, Edições do Gabinete de Formação e Estudos dos Irmãos de S. João de Deus, Roma 1969. 
[3]           Www.ohsjd.org.
[4]           Cfr. Cost. 1984, 1.
[5]           Cf. Caminho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus, Cúria Geral da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, Roma 2004.
[6]           Cf. Ir. Donatus Forkan, O Rosto Mutável da Ordem, Roma,  2009.

1.2 CARISMA E MISSÃO

1.2.1               CARISMA

1.2.1.1                   O estaleiro do Carisma

Em sentido religioso, carisma é toda a forma de presença do Espírito que enriquece o crente e o torna capaz de realizar um serviço, uma missão, para os outros. Tanto o carisma como a missão exprimem-se na existência através da espiritualidade, que consiste no modo de ser e de servir que conduz à identificação pessoal com Cristo.
As ciências sociais, quando falam de pessoas “carismáticas”, referem-se às pessoas que possuem determinadas qualidades capazes de influenciar um grupo de pessoas ou setores mais vastos da sociedade.
Na linguagem comum costumamos definir como “pessoa carismática” aquela que, no decurso da sua existência, deixa uma marca de si mesma na sociedade ou na história. O seu pensamento, o seu estilo de vida e as suas ações fazem com que a sua atuação tenha continuidade, na medida em que levam outras pessoas a viver de acordo com esse espírito.



1.2.1.2   Orientações


 S. João de Deus foi um homem carismático, quer em sentido religioso, quer em sentido sociológico. O seu modo de agir chamou a atenção de quantos o conheceram e, de qualquer modo, se sentiram atraídos pela força da sua dedicação total às pessoas mais necessitadas. O carisma da hospitalidade, com o qual João de Deus foi enriquecido por Deus, encarnou-se nele como uma semente que espalhou os seus frutos em tantos homens e mulheres que, através do tempo, continuaram a difundir a presença misericordiosa de Jesus de Nazaré, servindo as pessoas sofredoras, embora de modos diferentes.
As Constituições da nossa Ordem definem o Carisma da seguinte forma: “Em virtude deste dom, somos consagrados pela acção do Espírito Santo, que nos torna participantes, de maneira singular, do amor misericordioso do Pai. Esta experiência transmite-nos atitudes de benevolência e de dedicação, torna-nos capazes de cumprirmos a missão de anunciar e realizar o Reino entre os pobres e os doentes; transforma a nossa existência e faz com que, através da nossa vida, se torne manifesto o amor especial do Pai pelos mais fracos, que nós procuramos salvar segundo o estilo de Jesus.” (Cost 2b)
Os Irmãos e os Colaboradores participam no Carisma de João de Deus. Os Irmãos vivem-no com a sua consagração religiosa, os Colaboradores que se identificam com a fé cristã vivem-no com a sua consagração batismal, e todas as pessoas que fazem parte da Família de S. João de Deus vivem-no partilhando e promovendo os valores da hospitalidade.

1.2.1.3   Fontes e aprofundamentos

§   Constituições da Ordem. Consultar o sítio da Ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os números 2 e 6a.
§   Estatutos Gerais da Ordem. Consultar o sítio da Ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os números 47; 87; 94.
§   Carta de Identidade da Ordem, Roma 1999. Consultar o sítio da Ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os capítulos 1 e 3.
§   Irmãos e Colaboradores unidos para servir e promover a vida, Roma 1992. Consultar o sítio da Ordem na Internet: www.ohsjd.org. – Especialmente os números 90-100; 110; 122-123.
§   Ir. Donatus Forkan, “O Rosto Mutável da Ordem” [Carta circular], Roma 2009. Consultar o sítio da Ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os pontos 2.3.3; 2.4.2 e 3.4.1.




1.2.1.4   Pronto-socorro na Província

Esta secção deve ser completada por cada Província.
Quem são os interlocutores aos quais dirigir-se relativamente a este tema?
Como e onde é possível encontrar material informativo na Província relativamente a este tema?


1.2.2   MISSÃO


1.2.2.1   O estaleiro da Missão

A Missão, consequência do carisma recebido, é o modo concreto de exprimir o serviço na Igreja e no mundo, em favor das pessoas que, no caso da Ordem, são os doentes, os pobres e os necessitados.
As Constituições da Ordem definem a Missão da seguinte forma: “Encorajados pelo dom que recebemos, consagramo-nos a Deus e dedicamo-nos ao serviço da Igreja na assistência aos doentes e aos necessitados, com preferência pelos mais pobres” (Cost. 5a)

1.2.2.2   Orientações

A missão da Igreja é a evangelização que consiste em anunciar a Boa Nova do Evangelho com palavras e obras, como fez Jesus Cristo, Bom Samaritano, que passou pelo mundo fazendo o bem a todos (cf. At 10,38) e curando toda a espécie de doenças e enfermidades (Mt 4, 23). Podemos dizer então que a Missão da Ordem consiste em “evangelizar o mundo da dor e do sofrimento, através da promoção de obras e organizações de saúde e/ou sociais, que prestem uma assistência integral à pessoa humana, segundo o estilo de S. João de Deus, nosso Fundador(CI 1.3).
Deste modo, a nossa Ordem, como fez João de Deus na cidade de Granada, leva por diante a sua missão através do exercício da hospitalidade, expressão fundamental e central da filosofia, do estilo e do património cultural e espiritual da Ordem. A parábola do Bom Samaritano é o ícone, a grande alegoria, da hospitalidade.
A Ordem realiza a sua missão através de centros próprios e das suas obras, agindo em favor das pessoas que sofrem como expressão do amor misericordioso de Deus. Por conseguinte,
§   Trabalhamos em hospitais próprios, colaborando na assistência do país e prestando os serviços necessários aos cidadãos.
§   Aceitamos os centros que nos são confiados, quando estão em consonância com o nosso carisma e os princípios da nossa identidade.
§   Criamos centros e organismos a favor dos marginalizados da sociedade que não são tutelados pela legislação.
§   Inserimo-nos nos lugares onde a pobreza se manifesta de modo evidente, enfrentando as suas necessidades.
§   Colaboramos com outras instituições para a promoção de uma vida mais digna, contribuindo assim para a melhoria da saúde pública.
A missão da Ordem, em todos os seus Centros e Obras Apostólicas espalhados pelo mundo, é levada por diante graças ao trabalho que os Irmãos e os Colaboradores – funcionários, voluntários e benfeitores – desenvolvem em conjunto para prosseguir o mesmo projeto de servir os doentes e quantos estão em necessidade, como fez o nosso inspirador e fundador, S. João de Deus.

1.2.2.3 Fontes e aprofundamento

§   Constituições da Ordem. Consultar o sítio da Ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os números 5, 44-49.
§   Estatutos Gerais da Ordem. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os números 20-21; 47-52.
§   Carta de Identidade da Ordem, Roma 1999. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os capítulos 1, 3 e 4.
§   Irmãos e Colaboradores unidos para servir e promover a vida, Roma 1992. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os números 63-68; 90-100; 110; 114-124.
§   Ir Donatus Forkan, “O Rosto Mutável da Ordem” [Carta circular], Roma 2009. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente 2.3; 3.1; 3.2, 3.4; 3.5; 3.6.

1.2.2.4   Pronto-socorro na Província

Esta secção deve ser completada por cada Província.
Quem são os interlocutores aos quais dirigir-se relativamente a este tema?
Como e onde é possível encontrar material informativo na Província relativamente a este tema?

1.3. A FAMÍLIA HOSPITALEIRA

1.3.1    O estaleiro da Família Hospitaleira de S. João de Deus

S. João de Deus partilhou o dom que recebeu com pessoas de todas as classes sociais que, por sua vez, se sentiram contagiadas pelo seu modo de viver, de servir e de se dedicar a quem se encontrava em necessidade, de forma que deram início a um movimento de hospitalidade que teve continuidade no tempo até aos dias de hoje. 
O carisma e a obra iniciada pelo Fundador foram-se difundindo constantemente através do tempo, chegando também a quantos nem sempre estão animados pelos valores da fé cristã, e manifestaram-se numa criatividade admirável, segundo as diferentes épocas, os lugares, as diversas culturas e as necessidades dos doentes e de quantos sofrem.
Atualmente, temos consciência de que o carisma da hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus ultrapassa o âmbito dos Irmãos, os quais estão abertos a partilhar o carisma, a espiritualidade e a missão com todos os Colaboradores, formando com eles a Família Hospitaleira de S. João de Deus.

1.3.2    Orientações

Obviamente, são diferentes o modo e o nível de participação: há pessoas que se sentem particularmente ligadas à Ordem através da sua espiritualidade e pertença à fé cristã; outras, pelo contrário, por participarem na missão e através do seu compromisso e do reconhecimento do projeto da Ordem; e há, por fim, as pessoas que participam mediante as suas competências profissionais, empenhando-se de modo efetivo no desenvolvimento do seu trabalho.
Na missão de servir os doentes e os pobres, os Colaboradores participam mais diretamente na vida da Ordem, embora em níveis diferentes. O mais importante é que o dom da hospitalidade, recebido por João de Deus, estabeleça laços de comunhão entre os Irmãos e os Colaboradores, que os leve a realizar a própria vocação e a serem para o pobre e o necessitado um sinal visível do amor misericordioso de Deus pelos homens.
Atualmente (2012), a Família Hospitaleira é composta por cerca de 1.150 Irmãos e mais de 50.000 Colaboradores, incluindo Trabalhadores e Voluntários, além de cerca de 300.000 benfeitores. Está presente nos cinco continentes, mais precisamente em 52 nações, com 300 Obras, nas quais todos os anos são assistidas mais de 20.000.000 de pessoas doentes ou que se encontram em situações de necessidade.
A Ordem orienta-se em dois âmbitos jurídicos: como organização que desenvolve uma tarefa específica na sociedade, baseando-se na legislação em vigor no País onde se encontra, e como instituição eclesial, fundada no Direito Canónico.
Seguindo o direito canónico, atualmente (2012) a Ordem está estruturada em 20 Províncias religiosas, 1 Vice-Província, 2 Delegações Gerais e 8 Delegações Provinciais. O Governo Geral da Ordem reside em Roma e é eleito durante o Capítulo Geral que se celebra de 6 em 6 anos. O Governo de cada Província ou Delegação é eleito durante o Capítulo Provincial e da Delegação, que se celebra de 4 em 4 anos, e reside no lugar designado para o efeito. As Províncias, Vice-Províncias e Delegações são formadas por Comunidades locais de Irmãos e Obras Apostólicas estabelecidas em determinados lugares para neles exercerem a missão da Ordem.
As presenças e o tipo de Obras são muito diferentes. Existem centros altamente especializados; centros de saúde mental e reservado a deficientes físicos e mentais; centros para doentes crónicos, idosos e doentes terminais; centros nos Países em desenvolvimento; centros para pessoas sem-abrigo e pessoas com diferentes tipos de dependências, estando a Ordem sempre aberta à promoção de Obras destinadas às novas necessidades. Para a gestão destas Obras, a Ordem colabora com as entidades públicas e outras instituições ou entidades – jurídicas, eclesiais e sociais – com as quais existe obviamente uma afinidade de visões e de finalidades. Noutros casos, a Ordem promove as suas Obras em lugares onde os Estados e as outras instituições não chegam, para cuidar e assistir as pessoas mais vulneráveis.

         
Mapa da Ordem com os países onde ela se encontra presente

1.3.3        Fontes e aprofundamentos


§   Constituições da Ordem. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente os números 23; 46; 51.
§   Estatutos Gerais da Ordem. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente o capítulo 2.
§   Carta de Identidade da Ordem, Roma 1999. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente o n. 7.3.2.
§   Irmãos e Colaboradores unidos para servir e promover a vida, Roma 1992. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org. – Especialmente o capítulo IV.
§   Caminho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus (Espiritualidade da Ordem), Roma 2004. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente o n. 30.
§   Ir. Donatus Forkan, “O Rosto Mutável da Ordem” [Carta circular], Roma 2009. Consultar o sítio da ordem na Internet: www.ohsjd.org – Especialmente o capítulo 3.

1.3.4       Pronto-socorro na Província

Esta secção deve ser completada por cada Província.
Quem são os interlocutores aos quais dirigir-se relativamente a este tema?
Como e onde é possível encontrar material informativo na Província relativamente a este tema?

2. VALORES DA ORDEM

2.1.      O estaleiro dos valores da Ordem

A Ordem definiu a Hospitalidade como o seu valor central.
A Hospitalidade concretiza-se nos quatro valores-guia seguintes:
þ  QUALIDADE, que se concretiza na excelência, profissionalismo, serviço integral, sensibilidade pelas novas necessidades, modelo de união com os Colaboradores, modelo assistencial de S. João de Deus, arquitetura e mobiliário acolhedores, colaboração com terceiros.
þ  RESPEITO, que se concretiza no reconhecimento do outro na sua complexidade, na humanização, dimensão humana, responsabilidade recíproca entre Colaboradores e Irmãos, compreensão, visão holística, promoção da justiça social, envolvimento dos familiares.
þ  RESPONSABILIDADE, que se concretiza na fidelidade aos ideais de João de Deus e da Ordem, ética (bioética, ética social, ética de gestão), respeito pelo ambiente, sustentabilidade, justiça, distribuição equitativa dos recursos.
þ  ESPIRITUALIDADE, que se concretiza no serviço de pastoral de assistência espiritual e religiosa, evangelização, oferta espiritual para pessoas de outras religiões, ecumenismo, colaboração com paróquias, dioceses, outras confissões religiosas.
A Hospitalidade abrange seja os valores humanos seja os valores cristãos. Isto permite a todos os colaboradores, quer partilhem a fé em Cristo quer não, poderem trabalhar nos centros e instituições dos Irmãos de S. João de Deus presentes no mundo inteiro.
Os Valores humanos manifestam-se em atitudes e comportamentos positivos que caraterizam uma pessoa com particular incidência na perseverança, na coerência, no espírito de serviço e no altruísmo. Com a ativação de tais comportamentos, é possível compreender plenamente os significados da verdade, da ação correta e do amor.
Os Valores cristãos testemunham a ligação à promoção e defesa da vida, ao respeito pela pessoa e ao amor de acordo com o espírito das bem-aventuranças.

2.2.              Orientações


Os Irmãos de S. João de Deus são diariamente confrontados, em todas as latitudes, com o sofrimento e as dificuldades da humanidade. Trata-se de sofrimentos que afetam a esfera das emoções dos membros da Família de S. João de Deus. A hospitalidade joandeína, através das ações concretas de cada um, pode incutir a coragem de acreditar que é possível, por meio do trabalho, dar um sentido ao viver quotidiano e remediar, em parte, o sofrimento, ativando percursos virtuosos de justiça e caridade.
Responder às necessidades de saúde das crianças, dos idosos, dos que sofrem e das pessoas assistidas nos centros dos Irmãos de S. João de Deus requer a ativação de uma responsabilidade subjetiva profunda. Reconhecendo no outro a projeção de nós mesmos, ativa-se uma relação empática com os assistidos e consegue-se dar ajuda e alívio, através de comportamentos, gestos e competências profissionais que concretizem os valores básicos da hospitalidade.
Desse modo, passa-se de uma posição de expectativa para a de protagonistas, deixando-nos impregnar pelo sofrimento, convictos de que ele não pode ser eliminado, mas que pode, certamente, ser aliviado. O mais alto chamamento aos valores humanos é a “compaixão” pela pessoa humana com quem nos cruzamos nas horas de trabalho e na vida.
Para as pessoas que acreditam nos valores da Ordem, pertencer à Família dos Irmãos de S. João de Deus pode contribuir para dar sentido ao próprio projeto de vida.
Os colaboradores que se identificam com a fé cristã, animados pelo amor que os impele a agir, seguindo a mensagem de Cristo, extraem da leitura do Evangelho todas as indicações necessárias para o seu caminho – na sociedade, na família e no trabalho. Para eles, colaborar com as Obras dos Irmãos de S. João de Deus representa um lugar ideal de testemunho no qual o confronto com o outro não produz medo do conflito mas responde à necessidade de encontro que produz frutos.
Os Irmãos de S. João de Deus e os colaboradores, inspirados pelos valores da hospitalidade, são um apoio no sofrimento e na dor. Guiados pela ética assistencial, através do profissionalismo e da empatia, orientam e educam para o respeito pela vida humana nas suas diferentes fases, desde o nascimento até à doença, da doença até à morte. Em síntese, “a pessoa humana”, com a sua identidade específica, única e irrepetível, está sempre no centro da ação de cura e de assistência.
Os trabalhadores dos Irmãos de S. João de Deus são formados para uma hospitalidade sem reservas. Acolhem os doentes, as pessoas assistidas e as suas famílias, através de uma hospitalidade:
þ  misericordiosa.
þ  solidária
þ  de comunhão.
þ  criativa.
þ  integral.
þ  geradora de voluntariado e colaboradores.
þ  profética.

2.3.              Fontes e aprofundamentos


þ  Carta de Identidade da Ordem: www.ohsjd.org
þ  Humanização – História e Utopia, Edições Velar.
þ  Evangelhos.
þ  Declaração Universal dos Direitos Humanos – Assembleia Geral das Nações Unidas, 10 de dezembro de 1948.


2.4. Pronto-socorro na Província

Esta secção deve ser completada por cada Província.
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3. ESTILO DE APLICAÇÃO

3.1.      Assistência integral

3.1.1.      Estaleiro da Assistência integral

Cada Centro predispõe serviços adequados para responder ao conjunto das necessidades da pessoa assistida. Quando falamos em assistência integral referimo-nos ao assumir de responsabilidades relativamente ao utente, considerando todos os aspetos da sua humanidade. A pessoa que chega aos nossos centros devido a uma necessidade específica (para receber assistência ou acompanhamento, porque está doente ou é deficiente...), traz consigo uma multiplicidade de pedidos às quais procuramos dar resposta. Por conseguinte, as nossas casas estão equipadas para responder não só às necessidades materiais mas também às necessidades espirituais, às questões que dizem respeito à saúde e a tudo aquilo que se refere às relações familiares, sociais, religiosas.
Para ser eficaz, o modelo de assistência integral da Ordem pressupõe o trabalho em equipas interdisciplinares e multidisciplinares.[1]

3.1.2.   Orientação


O conceito de pessoa (modelo antropológico) é a chave para definir e realizar a missão da Ordem, a sua tarefa e a prestação de cuidados, o estilo assistencial.
“A pessoa é uma realidade plural, estruturada e constituída pelas dimensões física, psíquica, espiritual e social”.[2] Estas quatro dimensões devem ser consideradas constitutivas e essenciais da pessoa humana.
Estas dimensões estão de tal forma interligadas que qualquer disfunção numa delas produz repercussões também nas outras. Por conseguinte, o modelo assistencial da Ordem não pode ser senão “integral”. Na assistência, devem estar contempladas todas as dimensões da pessoa e elas devem ser tratadas por profissionais preparados e competentes, evidentemente também no que se refere à assistência espiritual e religiosa.
“Só uma atenção que inclua todas estas dimensões, pelo menos como critério de trabalho e como objetivo a alcançar, poderá considerar-se uma assistência integral”.[3] À motivação antropológica e assistencial acrescenta-se também uma motivação de caráter religioso que leva a adotar um modelo de atenção integral, seguindo o exemplo de Jesus Cristo que curava os doentes, perdoava os seus pecados e lhes garantia a salvação eterna.



3.1.3.      Fontes e aprofundamentos

þ  Carta de Identidade da Ordem: 5.1; 1.1; 1.3; 2.1.3; 3.1.5; 3.2.2; 5.3.1.1; 5.3.1.2; 5.3.2.5; 5.3.2.6; 6.1.1; 6.1.2; 6.3.1; 6.3.2.
þ  Constituições: 41-46.
þ  Estatutos Gerais: 50-52
þ  Humanização, III parte, capítulos 1, 5.
þ  Irmãos e Colaboradores unidos para servir e promover a vida: 15, 26, 45, 51, 87.
þ  Hospitalidade rumo ao ano 2000: 21, 67, apêndice.
þ  Livro da Formação: 15, 26.

3.1.4.      Pronto-socorro na Província


Esta secção deve ser completada por cada Província.
Quem são os interlocutores aos quais dirigir-se relativamente a este tema?
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3.2     Pastoral

3.2.1.     Estaleiro da Pastoral


Cada estrutura da Ordem estabelece um serviço de pastoral ou assistência espiritual e religiosa proporcionado às dimensões da estrutura, às necessidades dos utentes, dos trabalhadores e de todas as pessoas envolvidas na organização. O serviço de pastoral tem espaços próprios para o seu funcionamento, recursos humanos profissionalmente preparados e dispõe de meios económicos adequados.[4]
Os religiosos e os colaboradores preocupam-se de modo particular por conferir ao próprio trabalho uma perspetiva pastoral que se manifesta principalmente em assumir o cuidado da dimensão espiritual e religiosa das pessoas e as suas exigências e em traduzir em ações concretas os princípios e os critérios pastorais.[5]
Neste setor, estão envolvidos os religiosos, as religiosas, o capelão, a equipa de pastoral e todos os agentes e voluntários que em nome da própria fé desejam dar o seu contributo específico.

3.2.2.   Orientações

A pastoral é a ação evangelizadora de acompanhar as pessoas que sofrem, oferecendo com a palavra e o testemunho a Boa Nova da salvação, tal como fez Jesus Cristo, respeitando sempre as crenças e os valores das pessoas”.[6]
O serviço pastoral, ou de assistência espiritual e religiosa, está orientado para responder às necessidades espirituais e religiosas dos utentes, dos trabalhadores e das pessoas que, de alguma forma, estão envolvidas nos Centros,com uma visão ampla da evangelização que não seja exclusivamente sacramental. Além disso, a pastoral da saúde deverá ser ecuménica e estar aberta ao pluralismo religioso, capaz de conceber o acompanhamento espiritual como uma expressão alargada, seja qual for a opção ou posição religiosas das pessoas”.[7]
É necessário que a ação pastoral seja implementada no âmbito de um plano estratégico mais geral do Centro, com um projeto específico que contenha todas as indicações necessárias e possa ser avaliado pelos outros profissionais. Uma planificação correta permitirá organizar a pastoral, harmonizá-la com os outros serviços do Centro e responder com profissionalismo. 
O que carateriza os agentes pastorais é aquela atitude de amor para com o próximo que se torna disponibilidade, generosidade, acolhimento, escuta, partilha. Estas caraterísticas, além de emergirem de um trabalho sério sobre a própria pessoa, são fruto do Espírito e, portanto, devem ser invocadas como dom do Pai que está nos céus.

3.2.2.     Fontes e aprofundamentos


þ  Carta de Identidade da Ordem: capítulos 1-3; 4.6.; 5.1.3.; 5.3.6.5.; cap. 7.
þ  Constituições: 50-52
þ  Estatutos Gerais: 53-59.
þ  Carta do Superior Geral, 25.12.2006: 3.2.
þ  Capítulo Geral de 2006 – Prioridades e propostas; Missão da Ordem: 2.E.
þ  Documento da Ordem sobre a Pastoral, 2012
þ  Carta aos Operadores no campo da Saúde: 108-113; 130-135.
þ  Comissão Geral de Pastoral
þ  Dizionario di Teologia Pastorale Sanitaria, Edições Camilliane, Roma.
þ  Comolli-Monticelli, Manuale di pastorale sanitaria, Edições Camilliane, Roma.
þ  Tripaldi, Raphael, L’angelo accompagnatore del malato, Instituto Siciliano de Bioética.
þ  Revista Dolentium Hominum.
þ  Documentos dos Dias Mundiais do Doente.
þ  Sítio: www.healthpastoral.org



3.2.3.      Pronto-socorro na Província


Esta secção deve ser completada por cada Província.
Quem são os interlocutores aos quais dirigir-se relativamente a este tema?
Como e onde é possível encontrar material informativo na Província relativamente a este tema?


[1]           CI 5.3.2.6.
[2]           CI 5.1.
[3]           CI 5.1
[4]           CI 5.1.3.2.
[5]           CI 3.2.2.
[6]           CI 5.1.3.2.
[7]           Carta circular do Superior Geral, 25 de dezembro de 2006.