quarta-feira, 15 de agosto de 2012

1. ORDEM

1.1.   Figura de S. João de Deus

 

1.1.1      Nota biográfica

João de Deus nasce em Montemor-o-Novo (Portugal), em 1495. Tendo ido para a Espanha, ainda criança, vive uma série de aventuras, desde a perigosa carreira militar até à venda de livros. Em 1539 é internado no Hospital Real de Granada, por alegadas perturbações mentais ligadas a manifestações “excessivas”, relacionadas com a sua conversão, ocorrida ao escutar um sermão de S. João de Ávila. Neste lugar, João conhece a realidade dramática dos doentes, abandonados a si mesmos e marginalizados, e decide assim consagrar a sua vida ao serviço dos doentes.[1] No mesmo ano, funda o seu primeiro hospital na cidade de Granada, onde veio a falecer, a 8 de março de 1550.
Em 1630, o Papa Urbano VIII declara-o Beato e, em 1690, é canonizado pelo Papa Alexandre VIII. Em 1886, Leão XIII proclama-o celeste padroeiro dos hospitais e dos doentes. Em 1930, Pio XI proclama-o celeste protetor dos Enfermeiros e das suas associações e, finalmente, em 1940, Pio XII proclama-o padroeiro de Granada.[2]

1.1.2.     Perfil carismático[3]

João de Deus identificou-se profundamente com Jesus de Nazaré nas suas atitudes e gestos de misericórdia e solidariedade para com os pobres e os doentes: libertou-se progressivamente de todo o tipo de egoísmo e da tentação de viver um cristianismo confortável, fez uma leitura da situação dos pobres e dos doentes de Granada, em chave de fé e misericórdia e, animado pela experiência de Deus, Pai misericordioso, imitou Jesus Cristo na dedicação radical ao serviço dos necessitados da sua época para lhes manifestar o amor de Deus, tornando-os participantes da sua mesma experiência e anunciando-lhes a salvação.[4]
João de Deus foi um homem carismático e o seu modo de agir atraiu a atenção de quantos o conheceram. A sua influência difundiu-se a partir de Granada até às aldeias e cidades da Andaluzia e Castela. Este carisma ia para além da sua pessoa: não se tratava só de atitudes e gestos humanos que, expressando-se em amor para com os doentes e os pobres, despertavam admiração e impeliam a colaborar com a sua obra, mas era a manifestação de uma força que provinha da confiança depositada em Deus. O carisma da hospitalidade, com o qual João de Deus foi enriquecido pelo Espírito Santo, encarnou-se nele como germe que continua a viver nos homens e mulheres que, através da história prolongam a presença misericordiosa de Jesus de Nazaré, servindo aqueles que sofrem, segundo o seu estilo.[5]
A sua obra esteve sempre aberta, não só aos doentes e aos pobres, mas também a todas as pessoas que desejavam colaborar com ele. Começou com as esmolas dos habitantes de Granada. Sentiu-se apoiado pelo trabalho que os mesmos pobres faziam em casa e, com eles, os peregrinos e as prostitutas, às quais pediu ajuda. Estava ladeado por enfermeiros que trabalhavam no hospital enquanto ele andava fora, a pedir esmolas. Teve em Angulo um amigo de confiança que o acompanhava sempre, especialmente durante as suas saídas. Os benfeitores, com as suas ajudas, eram sempre os protagonistas da vida no hospital. Este conjunto de pessoas era a expressão dos seus princípios e da vontade de realizar uma obra com a participação de todos, dando valor a cada um com grande espírito de abertura e universalidade. A sua obra foi, portanto, desde os primeiros momentos, realizada graças à colaboração das pessoas de diferentes condições sociais, crentes ou não crentes. Só lhes era pedido que se identificassem com o seu espírito humanitário em relação às pessoas às quais ele desejava testemunhar a força da caridade.
Esta modalidade de participação contínua ainda hoje. Os níveis desta cooperação são diversos: assim, há pessoas que se sentem particularmente ligadas à Ordem através da sua espiritualidade, e há as que, por outro lado, vivem a sua participação mediante o desempenho da mesma missão.[6]


[1]           Cf. Castro, Francisco de, História da vida e obras de S. João de Deus, tradução e notas de Fr. João Gameiro, O.H., Co-edição de Editorial Franciscana (Braga) e Hospital Infantil de S. João de Deus (Montemor-o-Novo), Braga 1982.
[2]           Cfr. G. Russotto, San Giovanni di Dio e il suo Ordine Ospedaliero, Vol. I-II, Edições do Gabinete de Formação e Estudos dos Irmãos de S. João de Deus, Roma 1969. 
[3]           Www.ohsjd.org.
[4]           Cfr. Cost. 1984, 1.
[5]           Cf. Caminho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus, Cúria Geral da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, Roma 2004.
[6]           Cf. Ir. Donatus Forkan, O Rosto Mutável da Ordem, Roma,  2009.

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